quinta-feira, 10 de março de 2011

carta estúpida e inesperada

hoje sonhei contigo. é um facto importante de mencionar, nem que seja pelo facto de eu muito raramente sonhar contigo. ou pelo facto de eu muito raramente acordar às 8.20 da manhã depois de sonhar contigo e ter tempo para vir escrever textos sobre esse assunto.
não sonhei contigo por sentir a tua falta.
não sonhei contigo por querer voltar para ti.
provavelmente sonhei contigo porque os encontros de 3º grau com a tua família de cada vez que saio à rua na minha terra continuam a ter mais impacto em mim do que seria desejável. percebeste como eu disse encontros com a tua família e não contigo? eu passo a explicar:
quando te vejo - nada. nem um sentimento de culpa, nem saudade, nem sequer uma réstia de amor ou carinho que existiu durante mais de um ano. eu sei que fui do pior que podia ter sido e, embora nunca te tivesse desejado mal algum, trouxe muito mal para a tua vida. eu sei que, muito provavelmente por minha culpa e depois de todas as conversas que tivemos, continuas sem encontrar ninguém para amar. mas eu também não era essa pessoa.
enquanto estive contigo, transformei-me na versão adulta de mim mesma. de tarde eram os passeios por shoppings, as visitas a familiares, os pores do sol ao pé da praia. quando a noite caía eram as noites passadas em família - fosse com o Buzz, o Trivial, o Karaoke ou simplesmente a conversa, o moscatel e a cerveja e os pretzels - e, muito ocasionalmente, as saídas com alguns amigos. já reparaste quantas vezes escrevi família nessa frase?
acho que o mais importante que a nossa relação me trouxe foi isso - uma família. por isso é que eu pude crescer enquanto estive contigo - encontrei na tua família um "abrigo" que não encontrava na minha, onde as pessoas confiavam em mim, queriam-me por perto, convidavam-me para tudo e mais alguma coisa e tratavam-me como se a miúda de 16 anos que namorava com o filho e irmão deles fosse na realidade uma mulher de vinte-e-poucos.
tu sempre deixaste que isso acontecesse. provavelmente gostavas de me ter conhecido uns anos depois dessa altura, quando a miúda já não quisesse passar horas a jogar no computador, ouvir música demasiado pesada para o teu gosto. nunca me quiseste deixar viver aquilo que era próprio viver na minha idade. é por isso que eu não sinto a tua falta. mas sinto a falta deles. eles deram-me espaço para crescer, tu simplesmente querias afastar a miúda de mim o mais depressa possível.

e pronto, esta foi a minha carta estúpida e inesperada para ti. só vem com 2 anos de atraso.

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